quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

I was naked.

Today in the bath without water. my body was heavy, my feelings were hurting.
My thoughts were taking bath...there was a lot of reasons to cry, but I didn´t.
I´ve never missed someone that way before.
I´ve never felt the vacuum that way before...
Some things just happen and there is no way to change it.
In the end, all those things go down the drain. Body, thoughts, reasons, feelings, hurt...hopeful...
Coming back to real, the cold needs to freeze my heart...
I don´t wanna live in a dream.
I´ll wear some clothes, protect myself.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

In the middle of nowhere.

Sometimes you really wanna do the right thing.
Sometimes this is not possible...
I´m lost now.
I don´t know what I should do.
I wanna keep you closer.
I´m trying get the right way.
How can I make you forget all the things that you lived?
How can I make you look at me and see more than friendship?
How can I do our sunset become true?
I´m looking for...if you find, please, tell me.
I will wait. I always do that.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Longe dos sonhos.

Meu coração está em prantos,

em meus olhos os ventos são de inverno,

Lágrimas brincam de sangue

rubras bochechas minhas mentem,

Estou partindo, estou partida...

Nos meus braços embalo minha dor.

Caminho discreto, sem despedia.

Meus colares pesam a solidão...

Não sei a quem arranquei as viceras

Para em sina não viver o amor.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

partida

adeus pequenas gotas.
adeus flautas.
adeus, meu Deus, adeus a mim.
gotas, de orvalho, de lárgimas, de chuva.
flautas, de músicas, de danças, de sons.
eu, de momentos, de alegrias, de solidão.
adeus.
não sei voltar.
estou indo por esse caminho,
desculpem-me as falhas,
perdoem-me meus pecados,
minha dor não quer partir.
por isso, adeus.
à Deus peço paz.
perdoe minha falta de fé.
sou essa sombra que se foi.
orvalho e danças,
meu vazio.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Veste o que sou

Pelos meus atalhos fiz uma colcha de retalhos, tanto quis encurtar as conquistas que nada tão longo teci. Mas o tempo as vezes deixa-se ser amigo, e por mais tarde que venha a mim as clarezas, há tempo de costurar de novo.
Voltei a cada fuchico, o desfiz, refiz outra vez, prestando mais atenção ao que me remetia essas lembranças, lembranças que hoje percebo, vazias. E fui assim retornando ao passado que vestiu meu presente, desatando nós, trocando os panos, limpando as manchas que permiti surgirem.
Minha manta foi quase como um espelho, e olhando assim para mim, com mais cuidado e zelo, não senti o frio que vinha de fora, não senti o medo que vinha dos outros, não achei que devia fazer nada. Consegui sentir o que estava dentro de mim.
Quem não erra um ponto? Quem não fura o dedo?
O meu segredo é seguir com a certeza de que no meu coração sempre haverá tecidos coloridos, e saber que não há regras que me impessam de descontruir tudo para recomeçar.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Quadros

Político, seu poder me desapodera,
Entre suas decisões nascem das entranhas
Os meus medos.
O que você fez por mim hoje?

Guri, sua pobreza me escassa,
Entre seus dedos nascem do horror
Os meus medos.
O que alguém fez por você hoje?

Reflexo, sua indiferença me amesquinha,
Entre seus marasmos nascem do silêncio
Os meus medos.
O que se fez consigo mesmo hoje?

Medo, sua permanência me apavora,
Entre seus subjulgados nascem dos gritos
Os meus receios.
O que impedirá você hoje?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Desvaneios, auto-terapia

Nada no meu coração explode tanto quanto minha agonia. Amar é tão sério. -Por favor, ao entrar deixe suas lágrimas pro lado de fora. Não amo. Não posso amar. -Pouco tempo, mas sinto sua falta. Minha sinceridade só falha comigo. Que ar falso que me invade os pulmões. Que ânsia de desgostos que emudeci. -Não diga isso, não finja a verdade. Quem deixou que eu me deixasse deveria perder-se um dia, pra entender-me. Olhos de Jabuticaba, um dia em meus olhos. Sempre fui tudo que odiei, e ninguém me acusou. -Covardia, é tudo que vejo em você. Não posso não ter medo das minhas escolhas. Sofro de sentimentos impalpáveis, fortes, quentes, doloridos, atordoados, obscuros, subjetivos. -Pode deitar sua cabeça aqui, eu cuido das flores do jardim. Quanta vida que entreguei pro futuro. Rá. Pedras, bolas, carangueijos, emas, panelas, abajours, vinhos, sinos, nada. -Porque você foi embora eu não sei mais chorar.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Um pedacinho de fé.

Quando os ventos sopram ruídos roucos, trazendo para o céu o lençol preto de lágrimas, meus dedos encontram-se em oração. Rezo pelos menos protegidos, peço por quem não consegue pedir, agradeço as flores de todos os dias.
Sinto que os anjos vêem até mim, dançam silenciosamente, girando, levantando seus braços, de olhos fechados, sinto que despejam sobre mim grãos de sol.
Eu posso escutá-los, escutar suas asas...Escutar a chuva que cai e lava minha alma...
Sussuram-me, as fadas, ''não há fronteiras para um sonhador'', por isso ensinei meus cavalos quando cansados a virarem arco-íris... pontes de luz, para eu nunca parar de acreditar.
E eu sei que o sol está ausente há um tempo, mas eu não o esqueço. E enquanto eu souber que há algo melhor que essa escuridão, eu vou lutar em sua homenagem, com honra de ter fé no bem, no que é luz.
A natureza me chama, os rios correm, as árvores se cumprimentam, os animais se reverenciam, e eu entrego meu coração à paz e a esperança. Vivo a harmonia.
E se sempre for um sonho, morrerei com a minha liberdade de imaginar. E o meu mundo terá sido só de anjos bailarinos, fadas conselheiras e flores belas.
Vou rezar, por todos. Para que se toque mais músicas, para que se sorria mais, para que as energias vibrem, para que as luzes surjam novamente!

domingo, 19 de outubro de 2008

Desabafo...

Fui assaltada! De novo. E sangra em mim a invasão pela qual fui tomada. Dói minha dignidade, dói minha intimidade, doem meus pés, que muito andaram trabalhando num domingo frio pra ganhar um pouquinho de tudo que me roubaram.
Como olhar para esse transgressor que é meu semelhante e não odiá-lo com todo o meu coração e corpo? Odiá-lo por sua indiferença a mim. Indiferença ao que é meu, ao que eu vivi e ao que eu vivo com medo de sua sombra, uma sombra que se confundiria com a minha...
Minha raiva me consome e eu vacilo entre deixá-la em mim para não me acomodar ou esquecê-la... E esquecer tudo...E ir esquecendo sempre...E viver deixando tudo ser, porque simplesmente é assim, e não muda.
Não quero casar-me com o medo. Não desejo odiar ninguém.
Queria entender quando deixamos que roubassem nossa liberdade. Mas mais ainda, queria saber quando foi que nos tornamos de cera, que nada vemos, nada fazemos e tudo é pura inércia. Quero gritar os desaforos, quero punição, movimento!
Nosso país é pura inércia, é terra de mudos, surdos, cegos e presos, presos em suas próprias casas, com receio uns dos outros. Eu digo basta!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Conhece-te a ti mesmo.

''É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe"

Perco a razão, os sentidos, quando comigo passeam minhas dúvidas de mim. Fico a vagar pelo meu salão de lembranças, procurando uma que possa esclarecer meus medos e receios. Quero encotrá-las para entender esses sentimentos que me tomam no silêncio dos meus momentos. Tomam-me pela mão e torcem minhas toalhas dos olhos de mansinho, quase não dá para ver.
É estranho olhar para o que se foi e ver que as mudanças são fortemente significantes. Ver-se e não reconhecer-se. Uma espécie de não associação do que se tornou para o que se era. Vagar pelas memórias, recuperar algumas raizes de sua própria indentidade, estabelecer sentido entre o que se viveu com as reações pelo que se vive, conhecer-se, respeitar-se. Perco a razão e os sentidos sim, mas a cada transgressão deixo pro passado uma dúvida tortuosa. Vivo mais leve a cada passo, vivo mais eu sem pena de mim.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Sem pressa

Quem entra que entre devagarinho...
pise de leve na maderia fina que faz o meu chão...
Venha de mansinho, pede sim, licença..
Cansei do fogo breve que só queima o coração...
Quero brasa morna que dure pra sempre...
Quero beijo quente na pele branca de minha mão...
Bastam-me promessas de espumas,
Tapei meus ouvidos para qualquer canção...
Se é pra vir, venha sorrateiro...
Não quero mais tango, não quero explosão...
Quero um samba maneiro, uma valsa contida...
Com tempo de degustação!

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Retrato

Amélie então brindou, com sua taça fina e cheia de vinho branco.
Brindou sua felicidade que não parava de lhe abraçar!
Tim tim, Amélie vai viajar...tim tim Amélie só quer dançar!

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Contos que contou-me um anjo triste

A morada do amor me parece ser distante daqui. Imagino uma casinha coberta de neve, com os raios de sol mais finos a brilhar em sua janela.
Sabe, as vezes eu canso dos meus sorrisos. Sinto que eles não causam nos outros o que desejo... tenho vontade de mandá-los morar com o amor, porque comigo ficam perdidos, e por mais sinceros, eles vão e não voltam como eram... Mas se eles seguirem viagem, quem há, em mim, de lutar pela esperança? Quem se não meus sorrisos me devolveriam um pouquinho de fé? Haveria algo ou alguém que pudesse puxar do abismo fundo da solidão e do medo as flores, poucas, que restam dentro de mim?
O amor se foi, eu sei, não por motivos pessoais, ele se cansou de ser tão sozinho...o amor não pode existir sozinho...por isso se foi, e lá tão distante e frio, se congela para não morrer...
Pobre amor, fadado também por mim. Não posso fadar meus sorrisos...não! Por mais que as traças do mundo as vezes me convençam...
Meu coração anseia tanto por respostas... respostas que já sei para o sempre não ter.
Mas tenho uma maldita ambição de poder carregar o mundo nas mãos, que chego a ser estúpida e desafiar o tempo e o espaço.
Meus sorrisos não curarão todos os doentes...não darão paz aos peitos fechados...
Que aperto trago onde bate o pingente do meu camafeu...que suspiro silêncioso...que responsabilidade pela competência...
Que sufoco errante pela moral, que quero, não quero, para mim.
Por que você se foi amor? Minha sociedade muda conclama-o... Você é nossa salvação...é a minha salvação...
Quando o tenho perto meu coração sente cócegas, meus olhos enchem-se de lágrimas e meus sorrisos não são em vão...
As cores aparecem pintando as ruas por onde passo e toca música lá no céu...
Saudade do seu preenchimento... da razão de viver que você me ensina...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

14oC de mim.

Ai, esse frio cantante! Um frio de movimento...
Hoje li Saramago, depois viver Saramago. Recordei que precisamos nos humanizar...
Essa cidade, tão cheia, as vezes me faz esquecer que eu trouxe no coração uma alma de verdade.
Nem queria...mas estou me escrevendo, desnuda sou alvo fácil.
Fecharei a porta, sim. São minhas despedidas apenas... sussuros para quem quiser ouvir.

E enfim cantarei... ''hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito, e exijo respeito não sou mais um sonhador, chego a mudar de calçada quando aparece uma flor, e dou risada de um grande amor...''




''...mentira...''

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Nos passo calados, estive comigo.

Eu estive caminhando sozinha. Com as mãos no bolso, mas com a cabeça ao horizonte. O vento tocou a minha face e eu lembrei que gosto de vento, eu tinha esquecido. Quando se caminha só se lembra muitas coisas...e se pensa outras tantas.

Estive me perguntando coisas que me pergunto quase sempre...mas dessa vez de um modo mais real, mais sincero e responsável. Cada passo foi como uma longa estrada. Perguntei o por quê que certas coisas acontecem repetitivamente comigo, e me fazem sofrer por situações que eu nem pude viver e sentir verdadeiramente. Foi quase como um balde de àgua congelante que joguei sobre mim mesma.
Sou meu maior infortúnio.
Procurei com os olhos buscar as janelas mais bonitas, ou mais enfeitadas das casas e dos prédios da rua, para distrair-me da culpa...
Mas minha culpa, pude perceber no passo seguinte, é tão ingênua que se desculpa.
Não tenho fé em mim.
Minhas mãos continuavam nos bolsos, e era bom andar, sentia-me dona daquilo que realmente sou. E eu me sentia forte. Quase que com fé.

Fiquei a denominar-me, classificar-me, para me entender um pouco melhor...
Lembrei que pisco pra céu quando quero agradecer à Deus, e que sou engraçada quando tenho vontade.
Depois senti um pouco de raiva por me doar tanto aos outros...e por não cuidar direito da minha saúde...
Permaneci parada ainda diante da porta a refletir-me em mim no meu espelho interno... Amo doces e como por ansiedade...Adoro vestidos e saltos altos...
Perdoei-me das maldades que já fiz, e mais ainda das que deixei que fizessem comigo, pelo menos serviram pra me ensinar a me proteger mais.
De repente, como um soluço que vem do silêncio e desperta a todos, a fechadura me chamou. Minha caminhada se encerrava e meus pensamentos podiam voltar a dormir.
Meu eu é um processo de quilômetros...

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Meu presente, minha fé

Eram tão belas as cores que corriam com o vento que atordoei-me de tanto girar para vê-las todas. Tão vibrantes, espalhafatosas, sinceras. Cores sinceras...
E os meus olhos encheram-se de lágrimas cristalinas que de mansinho saltavam para minhas bochechas em finos, belos, transparentes rios...Desembocavam em meus lábios repuxados pelo meu sorriso branco. Sorriso de luz de sol poente.
Ah cores... o que são vocês? Sonhos? Vibrações? Arcos-íris?
São pedaços de mim que de tão cansados padeceram e estão subindo aos céus em felicidade perpétua?
Cores...são minhas divagações, são as belezas sem nome que me deixo homenagear... Se eu fosse artista pintaria esses "pretos e brancos" que assolam meu espaço, que ferem meus queridos, que deterioram toda paz...
Eram tão bonitas as cores que vi. Chorei de amor, chorei de esperança. Sorri porque é o que faço bem.

Ti bumfe

Tem dias que são mergulhos.
Dias em que não há mais o que fazer do que se lançar ao fundo
Do mar.
Do mar de peixes, de peixes do mar.
Porque o mar é dos peixes.
E não há peixe que não tenha o mar, e que não o tema.
Somos de nós.
Temer é fruto do que não tem semente.
Nasce como quem não viu passar,
Cresce como quem não ouviu o vento,
Fortalece-se como quem não falou no verso,
Morre quando o pegam nos olhos, e o olham.
Hoje é dia de mergulho.
Flutuo em mar de mim.
Nado tão ao fundo para encarar quem temo
Que tremo ser peixe.
Que perco o ar, que quero
Não quero,
Voltar. Vou me afogar!
Sinto o frio da água,
Do vazio, das algas em suas coreografias tristes.
Ainda mergulho, no entulho do mar.
E então encontro
Sozinho em mim,
O que outrora preferi não achar.
Mas saltei mar adentro e não posso agora recuar.
Num ímpeto de coragem tomei-o na mão,
Minha mão em palma
Fez-me o olhar.
Olhei tão em seus olhos
Que o matei.
Assim, simples o encarei, e o matei
e sei que vai demorar para ele voltar...
O nado custou meus receios,
o enfado em si tão logo passou.
Posso voltar a margem...
Estou livre para respirar.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Coisas sem sentido...

Bem pertinho estavam, os olhos fixos, sinceros. Olho direito com olho direito, olho esquerdo com olho esquerdo. Depois os olhos se fecham e saem de cena.

Você entrou no meu espaço, fez a costura e deu o laço.
No meu sossego maestrou concertos, quebrou meus pratos...
E já perturbada, sorrindo a toa, permiti aos sonhos que viessem à proa...
Para quê?

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Confissão de Adelina

Nunca sei o que é verdade, Nietzsche dizia ser um ponto de vista. Aristóteles uma adequação de mente e realidade. Eu digo que não sei. Por que quem sou eu para dizer qualquer coisa que se valha?
Se o consagrado Fernando Pessoa diz-se fingidor, porque finge que é dor, a dor que deveras sente, assumindo-se assim perde sua verdade?
O que haveria eu de saber que fosse dígno da lógica? Resta-me papear. Confabular comigo o que aceito como real. Viver assim, no meu conto de fadas. Por que não? Tudo é mesmo uma grande interpretação!
Não vou falar em palco da vida agora, fiquem tranquilos! Estou enfadada de alegorias assim.
Estou mesmo é lançando para dentro de mim, apenas, mais um pontinho de interrogação. Porque os adoro...simplesmente! Eles me fazem cocegas de doer, infincam-se por dentro da minha pele causando-me hemorragias internas e as vezes esmurram meu coração. Uma doçura.
Verdades por verdades, troco as minhas por cigarros, porque estão caros e me servem mais.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Comemorando apenas o dia...

Covardia deixar meu sorriso oprimir-se. Ainda mais quando tenho diante dos olhos um céu tão azul quanto posso querer dele.
Inaceitável vencer meus fantasmas e não brindar esse feito!
Tim tim flores e amigos!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Sono desperto

Hoje parei meus olhos. Ou pararam eles a mim, não me lembro bem agora. Recordo-me apenas de estagnar em um ponto, sem nada claro a pensar. Vaguei pelo vagão do metrô, sem me mover dali. As vezes mexia lentamente minhas pálpebras, e talvez junto com elas o meu glôbo ocular. Mas os olhos eram fixos, em qualquer lugar.
Não tinha sono. Observava o silêncio aflito do meu pensamento... sem som, ouvia pelos olhos. Sentia o cheiro pelos olhos, e quase que cheguei a tocar.
Li faces, fui ombro de lágrimas contidas, sem sequer nos olhos destes olhar.
Era uma pausa, certamente, do espaço, que me deixou viajar.
Meu coração era calmo e sereno. Eu pertencia ao tempo e não queria voltar...

domingo, 17 de agosto de 2008

I´ll go away now.

I Can´t go with you.
My dreams can´t fly without my eyes being closed.
I need to leave this space, to leave these things, our things.
I will seek another way to live.
But someday I will return from this walk, and I hope that you smile when we meet each other.
Because you are the half of my heart.
I just can´t go.
The sea waits for me.
I will sleep with angels, I will sing with the fairies...
Don´t cry my love.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Diálogos finais

"Não sei por quê raios a ausência de temperos dá-se em mim", pensava ele ao descer do ônibus. "E por que estou com isso na cabeça agora? Exatamente quando desço esses degraus, tão pisados como deve parecer o meu rosto!", refletia ao ventos ocos de seus pensamentos importunos. "Sou sem sal. E não adoço ninguém. Quem haveria de se encostar em mim...só me acossam!"
Foi atravessar a rua, nada viu, e quase não pode pensar, mas pensou, " Ai de mim, que nada sou!" E ali ficou, sobre seu sangue sem gosto. morrendo um pouquinho mais...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Sem saudade do que não se foi.

Alguns passos e quero chorar...
É essa solidão que é só minha. Minha, e que ninguém conhece. Talvez conheçam as suas, as deles, não a minha!
Ela é surda para qualquer conselho. Ela é muda para qualquer ombro.
Não há voz em mim que grite toda minha solidão. Não há força que a faça calar.
As vezes inquieta-me. Quero vomitá-la! Vem como uma ânsia sorrateira que desperta bruscamente no silêncio dos meus pensamentos, e desejo jogá-la para fora, no mesmo instante em que chega a minha consciência.
As vezes agrada-me. Convence-me de que sou eu, sozinha, que me levo pelo mundo, e nada pode quebrar-me se só estou.
Mas a verdade é que estou cansada de mim. Farta de mim. Cheia de mim.
Sei que é minha, não posso dá-la e nem dividí-la...mas poderia, em um dia de sol, andando com os pés nus a encontrar o orvalho da manhã, esquecê-la num canto qualquer do caminho...
Deixar a solidão viver-se de si.

sábado, 9 de agosto de 2008

Amora

Cada dia que passa,

mais me encanta,

mais me enlaça.



E eu que pouco faço,

e descaso causo,

me despedaço...



Estou feito tinta,

cheia de graça,

na tela de Picasso.

Dias que passam por nós

As vezes em transe, paro num instante do movimento e vejo ações que passariam desapercebidas. São sorrisos tímidos, olhares de afeto, são votos de um bom dia sinceros. São pedaços de esperança que perdemos pelo caminho. Há, certamente, mais bons corações pelas ruas, pelo mundo, do que maus.
Talvez enaltecer o que temos de belo, de bondade ao nosso redor, seria uma forma de desfazer essa neblina escura que percorre o nosso século...do desinteresse, da desesperança, a falta de ''pressão'' que cala nossos sonhos.

Um grande poeta, o qual admiro e me encanto com suas palavras, escreveu assim: ''Sou um pobre homem disposto a amar seus semelhantes (...) E em nome do meu mutante amor proclamo a pureza." (Pablo Neruda)

Quero para os meus olhos as paixões que impulsionam a vida! As alegrias, os amigos, as risadas. É bom entrar em transe, é bom ver uns amando aos outros, amor de espécie, de semelhança. Sem maldade, sem cobrança... Proclamo, também, a pureza!

domingo, 3 de agosto de 2008

Se de leve incita o vento as brumas a voar...

As vezes quando a madrugada poe-me a cambiar e sentir que de mansinho minha vertical se inclina no universo dos sem corpo, tenho uma vontade excêntrica de escrever. Tão excêntrica quanto o meu ''deseixo''.
São meus dedos que brincam de sedição.
Minha ausência de equilibrio é quase como um sono em perpétua vigília. Traz-me sonhos reais e realidades supostas.
Hoje, querendo desanuviar minhas faculdades, vi-me atada. Que posso eu fazer por essa esféra armilar? A que sou útil?
Em meio aos meus dedos, ao meu sono, não obtive resposta sincera de mim. Senti, com frio, que as letras, e só elas, fazem-me companhia. Fazem de mim o que eu posso vir a ser. E temo por mim e por elas. Porque com elas faço suas forcas e minhas escadas, e o oposto.
Não sei de nada. Absolutamente. Mas tenho um bom coração.
E se o herói tem a palavra, assim ele sentenciará! Tenha um bom coração!
Talvez bons corações sejam apenas espadas sem fio, que não vencem guerras, que não mudam o mundo...
As vezes isso acontece, fico a celebrar meus pensamentos com champagne de reflexões e canapés de paradoxos humanos.
Quase nada digo, mas enfado o silêncio, e para mim isto supre.
Enfim, se o vento levar minhas brumas, que leve também minhas cores, porque para voar é preciso ir-se inteira.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Vontade de cartas!

Saiu de casa com os cabelos ainda molhados, vestida com sua roupa de ginástica. Andou por sete ruas deixando que o sol da manhã a banhasse com seu calor natural, batizando sua pele fria da noite que havia passado.
Ouvia uma rádio nacional, e ora olhava para o chão ora para o céu. E quando era para cima que olhava apertava seus olhos e sorria, um sorriso sem dente.
Estava indo comprar envelopes. Chegou na banca, como todas as bancas, que hoje são só, e apenas bancas, iguais em quase tudo, e pediu por aquilo que desejava.
- Não vendemos mais isso.
- Mas por quê?
E ela nem precisaria ter perguntado, mesmo sua fluidez tendo sido quebrada pela ausência do que procurava, e isso tê-la deixado desorientada, sabia que a resposta era simples e clara.
-Ninguém mais compra!
Por uns cinco segundos ficou ali olhando as fotos gritantes das capas dos jornais, e a perfeição dos rostos e corpos das revistas, mas estava decidida que compraria envelopes, então não quis perder muito tempo. Agradeceu educadamente, e acenou um bocadinho triste. Partiu dali pensando qual seria a papelaria mais próxima.
Seus cabelos estavam já meio secos, e a brisa leve levantava alguns poucos fios que brilhavam quando os raios de luz os encontravam. Era uma menina ainda, mas havia nela algo muito precioso. Quando conhecia alguém, olhava nos olhos dessa pessoa de verdade, as vezes podia adivinhar pelo que ela estava passando, entendia suas dores e queria curá-las. Mas queria isso com um carinho puro, porque realmente se importava com elas.
E cada dia que passa vemos menos pessoas se importando umas com as outras. Todos tem tanto medo, e tem tanta vontade de ter sucesso que acabam ficando como as bancas. Iguais e sem o que realmente se deseja.
Enfim, ela era assim, atenciosa, era precioso, e por esse motivo também, sempre quando passava alguém ao seu lado em sua caminhada à procura da papelaria, ela cumprimentava.
- Bom dia!
E certamente para ela o dia estava bom, principalmente porque estava com tempo para procurar o que queria.
(Isso é outro problema de todos, ninguém tem tempo! E é bem racional essa frase, não se pode ter tempo, mas se você está com ele ao seu lado, aí sim, tudo simplifica! Entretanto não há novidade no que foi dito, a relatividade sempre existiu).
O dia estava bom e ponto. O céu estava azul, o sol estava ali, potente, triunfante, e ela ia com calma.
Talvez tenha escolhido a roupa de ginástica para se sentir mais a vontade. Andou por algumas ruelas, atravessou uma avenida, e finalmente encontrou uma papelaria! Não era das maiores, nem das mais bonitas, e isso a animou.
- Talvez seja ali mesmo que eu vá encontrar!
Entrou devagar, como se aproveitasse o momento em que compraria seus envelopes, passou a mão pelos cabelos para verificar se ainda estavam molhados, deu um meio sorriso e abriu bem os olhos, procurando por alguma novidade.
- Olá, bom dia! O senhor tem envelopes?
- Bom dia menina, tenho sim, quantos quer?
- Posso vê-los?
- Claro, estão ali, na prateleira atrás de você.
A menina virou-se rapidamente e se deparou com muitos envelopes, de todos os tamanhos, cores, formas! Nossa! Nunca imaginaria que encontraria tantos! Já não compram mais envelopes, emails são muitíssimo mais práticos!
Ficou encantada! Dava para ver de longe o brilho em seus olhos, suas mão não conseguiam ficar paradas, a todo momento buscavam um e recuavam indo em direção à outro e depois à outro. Uma euforia, uma alegria sincera e surpreendentemente simples, envelopes!
Para ela, um mar de envelopes, ventos de envelopes, envelopes dançantes, saltitantes, envelopes que cintilavam!
Comprou muitos, tantos quanto seu dinheiro podia comprar.
E você pode questionar a sanidade dessa menina, pode achar estúpido adorar tanto pedaços de papel que nem usamos mais, a não ser claro para receber os boletos, as contas, as propagandas. Mas ela pegou aqueles envelopes colocou-os na sacolinha de plástico e voltou pelo mesmo caminho para sua casa e escreveu muitas cartas. Para seus pais, seus amigos, seus amores e para alguns desconhecidos.
Ela, pequena menina, tão sensível, sabia, que cada um que sua carta recebesse, não só por ser sua, mas alegrar-se-ia, pois saberia que mesmo nesse mundo de acelerados e descontraídos, ainda há esperança para uma pausa, um momento que só trazem as cartas, com seus cheiros e letras, que reestabelecem o elo natural que os seres humanos são capazes de formar. Um elo que quando mergulhamos nas lembranças buscamos as melhores memórias, e isso tudo é conduzido pelas linhas feitas de caneta.
Um elo que pode permanecer eterno. Pelo menos no coração de uma menina, de cabelos já secos a fechar seus envelopes com a língua.
Quem não gostaria de receber uma carta, que pudesse depois de lê-la agarrá-la junto ao peito?

domingo, 27 de julho de 2008

anjos que colorem o céu

cada qual na sua nuvem,

cada um com seu postal,

se não sabe de onde vem,

vá regar o seu quintal!



aqui os sonhos tem dono,

são zelados com paixão,

regados com as águas límpidas

das cascatas do coração!



se há flores com você

tudo é cor, tudo se pinta

se tem é por merecer,

porque sonhos são raras tintas!



(para descontrair um domingo cheio de trabalho e alegrias!)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Engolindo a própria sombra.

Êta distúrbio esquisito,
o moço só olha pro chão.
Tem um discurso bonito,
mas é possuído pelo capeta!
Que treta!
Ele olha para própria sombra
e diz censurando-a,
'não foges não'.
Depois se aquieta com ela,
vira-se e
parece estar na passarela,
perde o passo e a trela,
é um completo bobão!
Fala com a sombra
chama de amada,
É doença antiga!
Aquela que dá na barriga,
de gente tapada!
Êta moço atrapalhado,
ama tanto sua sombra
briga e brinca na luz,
fica tão obcecado
que não pode olhar para o lado,
perde tudo o que reluz!

Quero um rabisco!

Linhas seguem sem atar,
vão formando tanta forma
e não dão nó!
Mas ó, que linhas divinas...
Dançam, se pintam
giram sem parar,
e nada de se enroscar!
Tão perfeitas linhas e formas
tão linhas e tão formas,
são lindas, finas,
Não dá para negar!
Mas assim olhando
sem piscar, vê-se as mesmas
linhas, tão sozinhas,
tão só fios,
tão só frias,
linhas que não servem
nem para pescar...
finas, sinas...


Queria agradecr os comentários que recebi na minha postagem anterior a essa, e pedir para que deixem seus endereços eletrônicos para que eu possa respoder às questões que me propuseram! Ficarei contente em conversar com vocês! Um beijo carinhoso, Laura.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Som surdo

Tem dias em que quero ficar só. Ficar quieta no meu cantinho. Sem falar, sem estar com alguém por perto.
Desde pequena sou assim, tranco-me no quarto e fico ali comigo. Sem estar triste, ou escondendo alguma coisa, apenas gosto de estar sozinha, de ficar horas e horas só pensando. Olhando para o teto, para o chão, para mim, pensando.
As vezes escrevo, outras não.
Se eu pudesse ficaria muitos dias em silêncio, mas quando vejo as pessoas não consigo não falar...Seria egoísmo demais alertar a todos com meu silêncio, e eu não poderia explicar que está tudo bem, que não há nada de errado, que eu só queria ficar muda por um tempo...
O silêncio absoluto só é respeitado se carrega dor. Dequalquer natureza...

Até carrego minhas dores...mas elas são felizes demais para me calarem...
Quando fico só me permito silenciar...e é divino!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Cores que não pintei

É tão tarde, está frio, meus dedos parecem azulejos no inverno.
Sinto-me triste e não sei chorar. Porque não tem por quê.
E então fico com esse nó, e brinco de ser nó com ele.
Queria que cortar cebolas fosse mais doloroso. Cortaria muitas! Até esvaziar tudo, e não ter mais sofrimento...
Não sei da onde vêm. Só sei que ficam aqui, debaixo do meu cobertor, me empurrando para fora, gelando meus dedos, minha ponta do nariz.
Chorar me bastaria! Não peço colo, nem vela.
Só lágrimas e brisa mansa para descançar meu corpo.
Dêem-me aquarela...

terça-feira, 24 de junho de 2008

Folha

Que ódio da folha maldita.
Escrita esquálida,
morte na certa!
Fui cerrar a caneta e pimba!
Borrou-se toda,
de nada que preste.
Pura velha e conhecida pinga!
folha vadia!

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Grande Salto

O coração pulou da estante,
vivia ali, quieto e seguro
mas pulou,

foi uma euforia,
dos olhos, da mente
das mãos a correr para salvá-lo!

pulou o danado,
sem saber do chão,
jogou-se na incerteza,

pensou que podia voar
e pulou por querer,
e sem tempo

de milagre acontecer
espatifou-se ali
três segundos depois

quando do pulo deixou
a estante para trás,
caiu,

quebrou,
chorou cada e toda dor...
mas pulou!

sábado, 21 de junho de 2008

dois minutos pra dormir

O cansaço me inspira. Não sei por quê. Talvez seja em seu leito, encostando minha cabeça em seu ombro é que sinto quanto vazio há em volta. Quanta árvore oca, quantos pássaros covers, quanto vento de ventilador.

Quando a gente cansa é preciso parar pra ver.

Queria parar, tecer meu stress, fazer dele uma longa manta pro inverno. Pegar minhas indignações e pendurá-las no varal, deixá-las secar no sol, tirar o pó que as camufla. Abriria a gaiola dos meus gritos mudos, e faria alongamento pra respeitar meu corpo. Respiraria só o que eu não pudesse ver. Iria nadar, boiar.

Mas estou tão cansada. Parar exige um movimento bruto demais, desprendido demais, impactante demais...prefiro a inércia estúpida disso tudo que me cansa, e me faz parar pra ver quanto vazio há em volta, e em mim.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Ganesha

Ela levantou meio dia, colocou seus chinelos do tipo sem dedo marrom, deixando a vista sua meia azul calcinha, e foi tomar café. Não havia fio de cabelo que estivesse em sua determinada, apresentável, posição. Parou rente a pia, por dois minutos pensou ser uma boa idéia lavar aqueles pratos de sopa de mandioca de cinco dias atrás, mas sentiu pena de afogar as formigas e se convenceu que esperaria mais um dia.
Com o canto do olho semi aberto, ainda de sono e medroso de luz, olhou pela janela da cozinha e viu no quintal algo reluzente. Uma cor laranja avermelhada, de forma arredondada e de difícil denominação à primeira vista. Hesitou, não ia para fora verificar um objeto brilhante, que nem sequer ruído fazia, e não seria algo valioso porque ouro não cai do céu.
virou-se para a geladeira, encarou-a, pensou que ela já estava velha demais. Sem três dos pés, com o frizer quebrado há 8 meses, a borracha solta, o que a deixava vazando e alagando toda a cozinha. Talvez fosse bom pensar em comprar uma nova, pensou ela consigo.
Umas mordidas no pão de forma com maionese, uns goles de água de torneira e ela se lembrou do quintal. O que será aquilo? refletiu.
Levantou-se do banquinho de madeira de uma vez só, enfiando o pão inteiro na boca e caminhou até a porta que dava para a parte dos fundos da casa. Saiu e avistou o objeto desconhecido. Por uns raros segundos teve medo, podia certamente ser um etê disfarçado de bibelô brilhante! Ou uma bomba do Al-Qaeda em fase de teste. A casa dela certamente era um alvo interessante, porque nada ali interessava. Sentiu-se tola, esfregou o nariz, fez com a mão um cap, encobrindo seu rosto do sol que cegava jorrando luz.
Chegou ao objeto imóvel, e observando de cima não acretidou no que era. Abaixou-se e riu. Uma cabeça de elefante! De elefante! Esculpida em pedra, em vidro, não sabia. Mas como teria aquilo ido parar ali?
O dia da sopa, com certeza! pensou ela, algum de seus únicos três amigos devia ter esquecido. Era estranho pensar que eles teriam uma cabeça de elefante avermelhada. Não era útil, e muito menos bonita! Aquele dia tinham colocado um tapete verde musgo estendido no chão do quintal, jogaram umas almofadas sem capa e passaram a noite toda bebendo cognac e bloodmary ao som do pior reggae estrangeiro que podia existir. Mas em nenhum momento havia elefante, cabeças sim, jogadas nas almofadas, rodando e rodando feito gira-gira. Mas nada de elefantes vermelhos!
Ela pegou aquela coisinha na mão, estava gelada, e pesava mais do que havia imaginado. Deve ser vidro...trouxe mais próximo dos olhos e viu que a trompa não era circular e sim pontiaguda. Achou melhor ter mais cuidado. Entrou novamente em casa a apoiou a cabeça de elefante na estante do quarto, perto de dois livros empoeriados.
Quando bateu sete horas da noite no relógio de cucu da cozinha ela se lembrou da louça, imaginou que já era hora de formiga estar na cama e que aquele cheiro de mandioca podre já tinha enjooado até mesmo os lixeiros da rua, então respirou fundo, estralou os dedos das mãos, fez uma careta sem platéia e levantou com muito esforço do sofá bege de dois lugares que ocupava a sala inteira e metade do hall, quando chegou até a cozinha viu a poça de água que havia se juntado com a poça do dia anterior e formado um pequeno lago em frente a geladeira, e sentiu um pouco de pena de si mesmo. Aquela vida toda era um monte de porcaria. Desistiu da louça, visto que teria que construir um navio para atravessar até o outro lado da cozinha e foi para o quarto.
Deitada na cama de olhos abertos avistou o elefantinho. Pelo menos algo diferente numa quarta-feira vazia. Diferente, mas tão vazia. Vazia, sem sentido, como aquela cabeça. Podia ser a sua cabeça. Seus três amigos não estavam ali, não podiam beber com ela. Não havia mais nada para beber também. As garrafas estavam vazias, assim como os programas de televisão. E a geladeira certamente estava vazia. Só a pia estava cheia, cheia do vazio que tinham deixado os amigos que partiram bêbados. Olhou seus pés, aquelas meias vazias. O vazio em seus pensamentos foram agonizando-a.
E estava tudo tão vazio que ela quis preencher-se. Foi até a caixa de remédios pegou todos, engoliu muitos, e depois outros a seco. Engoliu mais uns cinco, caminhou até a estante pegou o elefante e deitou-se na cama com seu vazio.
Com a trompa e sua ponta fina marcou em seu punho as linhas que seguiram a vermelhidão daquela cabeça perdida. Cantou para a pequena estatueta suas músicas solitárias. Era a sua companhia, tinha sido um presente de Deus. Desafortunada ela e sua cabeça, desafortunado elefante de Ganesha.

domingo, 15 de junho de 2008

vinha, só minha

A madrugada batia à minha porta, eu renegava sua presença fria, mas invadia-me mesmo assim. tomava-me em seus braços, acariciáva-me congelando meus dedos brancos. soprava aos meus ouvidos promessas de que estava de passagem, mas demorava-se ali. Preenchia meu quarto, bagunçava meus papéis, abria a janela e a lua me via nua, a tremer.
Eu cansava quase sempre da visita. Mais quando com ela vinha a solidão. Esta era quieta, não fazia ruído, não chutava minhas roupas amarrotas, não desmarcava meus livros. Apenas sentava-se na minha cama de pernas cruzadas e lá ficava de cabeça baixa, quase como um fantasma. E o seu silêncio dóia. Era tão forte que alguns dias vi a madrugada ir-se embora de fininho, envergonhando-se de seus grilos e corujas.
Eu não me atrevia a falar, menos ainda a expulsá-la, acostumei-me a sua companhia, escutava comigo Bach e não desgostava. Não podia dormir na sua presença, porque ocupava a cama, então apoiava meus cotovelos na escrivaninha de madeira escura e com os olhos cerrados sentia o vazio dos meus pensamentos.
Um dia tomei uma taça de vinho branco. outra em seguida, e então mais duas. Nesse dia dancei junto com a madrugada, e ela nunca tinha sido tão quente, me pus descalça a pular com as almofadas e a tocar as harpias dos anjos. mais uma taça. eu já não via minhas mãos, porque dançavam depressa, corriam pelo quarto com lenços coloridos. uma taça de vinho branco. pulei na cama, voei com as corujas surdas para todos os cantos. uma taça. Ri tão alto, tão longo, ri das estrelas, dos amores, das calçadas...e então virei madrugada, e ao ver que se aproximava a solidão, sai de fininho, cri cri.