quarta-feira, 8 de abril de 2009

Noite mal dormida

A ansiedade foi contorcendo seu pescoço, tanto que a cabeça girou três vezes no sentido da lua. Depois a ânsia desceu pro estômago criando bolhas de sangue que explodiam a cada minuto, dando a sensação de gorfo. Uma inquietude vociferante ecoava entre seus seios silenciosos, e as mãos desacalmadas feriam sua barriga em unhas, sem querer, em descarrego.
Um grito dilatante que permaneceu na idéia, pensamentos de calma esmagados pela angústia. Ela chorou. Chorou pouco, nem se ouviu.
No quarto uma penúmbra de noite, um frio de madrugada, a respiração da casa dormente.
A inconsistência do existir, a dificuldade do coexistir. Um medo de raízes longínquas, a falta do equílibrio das solidões. Ela respirava o pó das suas vivências e não sabia quem era, nem o que queria.
O desespero de não ter para si mesma uma ideologia viva.
Correram formigas por suas pernas, subiram na linha corcunda de sua coluna em feto. Quem lhe daria respostas? Quem se não ela?
E em meio ao ciclone de seu desassossego o sono conduziu-a ao marasmo do sonho. Adormecida deixou calar as razões todas e só se ouviu o palpitar do coração. A noite largou as horas e as estrelas se esconderam para o dia nascer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa, que lindo! Adorei!!! Gosto muito quando você escreve em 3ª pessoa. Parabéns! Mari